Diário Sapatônico 03. Diálogo Inteligente

Diálogo Inteligente:

Para esclarecimento: H – homem homo fóbico; M – Mulher com Máster Motivação de silêncio.

H – Você é quase uma lenda aqui. Eu sei onde tu mora, eu já queria falar contigo tinha tempo. Eu preciso saber uma coisa de você.

M – É a clássica.

H – Você é gay?

M - *Cara de tédio devido repetição exaustiva da cena*

- Silêncio reina. Amigos riem ao fundo. –

H – Tá, você não é. Agora eu te acho menos sexy.

- 7 segundos de silêncio, novamente com amigos rindo ao fundo. –

H – Já que você não é gay. Quer ficar comigo?

M – *Ainda boiando no tédio* Não ‘tô interessada.

H – Mas você disse que não é gay, por que então me deu um fora?

M - *Pensando: Ser hetero é isso? É estar obrigada a ficar com todos os homens (heteros) do local?

H – E então? Você não é gay, nem bi... bem que eu queria que fosse. Por que não quer ficar comigo?

- Amigos ainda rindo ao fundo. –

M - *Duvidando seriamente da veracidade daquelas amizades. Pensando em formas de socar o garoto, e oscilando em formas de manter-se calma.*

Isto durou uma hora. É insuportável. Pedir para que os machões tenham educação e delicadeza para não perguntar é utopia pura, da mais brisada possível. Mas olhe só... é bom pra eles ter a resposta, é bom pra gente não ter de passar por isso.

Eu respeito o que você come, o que você prefere, a filosofia que você segue (se é que segue). Custa não IMPOR a sua?

Diário Sapatônico 02. Hierarquia Acéfala

Existem coisas que homens fazem e não se tocam o quanto isso é chato. Tem coisas que os homo fóbicos fazem e não se tocam do quão insuportável isso é.

Fui a uma festa ontem, só posso dizer que foi péssima. Mesmo não querendo ter ido, fui. Antes eu tivesse ficado em casa, de pijama, vendo algum filme ou estudando pra minha prova chatíssima de segunda-feira. Mas não, eu fui. Dentre milhares de outras possibilidades (im)possíveis do que fazer em casa, eu fui.

Eu fui pra servir felicidade aos comentaristas de esquinas, as vulgas fofoqueiras. Fui pra deliciar os curiosos, os machões, as menininhas de mente vazia. Que infelizmente, esta escória, representa hoje a grande maioria na população. Decadência, eu tenho de dizer: decadência. Um nojo ver tantos anos de evolução serem jogados aos porcos desta forma.

Um nojo maior ainda foi fingir estar feliz, num ambiente predominantemente hétero. Hétero não, homo fóbico. Fui pra fazer algumas pessoas felizes, e... como eu me arrependo. Agüentei horas e horas de comentários, olhares, críticas, perguntas curiosas invasivas, perguntas, cantadas com finalidade vil. Isso é abusivo, estressante e invasivo.

Não sou, alias não somos obrigadas a responder curiosidades esdrúxulas. Não existimos para satisfazer vocês, suas vontades. Suas miseras vontades, sem utilidade. Apenas curiosidade.

Vou lembrar que mesmo sendo gays, homossexuais, lésbicas, qual quer que seja o nome. Não deixaremos, nunca deixaremos de ser MULHERes. Temos sentimentos, não temos só o visual, temos mais. E gostaríamos que vocês também tivessem mais, que ao menos demonstrassem ter mais.


Não somos obrigadas a satisfazer à pergunta clássica: Você é gay?